domingo, 16 de novembro de 2008

História Para Boi Dormir ou Imagina Se Eu Fosse Chinês

O cego está no castelo, do alto da torre ele olha para todos os lados, do sopé da torre até o horizonte compreendido pelo reino. O povo, primeiro se deslumbra com a perseverança e insistência do homem, mas logo se pergunta o que tanto ele procura? O cego, sem se importar com a sensação de estar sendo observado e com a exitação das pessoas intrigadas que o fitam de baixo, continua a mirar o distante, continua procurando. Conforme o tempo passa o cego faz caretas, gestos abrangentes, caras de indagação. As poucas pessoas se transformarm em uma multidão, logo o reino parecia pequeno para suportar tantos curiosos. Mas o cego alheio a toda aquela movimentação, continuava seu ritual. Vários filósofos apareceram, o que será que aquele cego espera enxergar, encontrar. Milhares de perguntas são feitas, teorias, mitos são criados e o cego a olhar para todos os lados. Passaram-se anos e o cego fazendo a mesma coisa e o povo em volta admirado. Então o cego parou, firme, com ares de certeza e decisão fixou-se de frente a um ponto e ali permaneceu. O povo sentiu a princípio um alívio, enfim ele encontrou o que procurava. E todos olharam fixo para onde o cego olhava. Mas ninguém parecia enxergar o que o cego enxergava. Demorou um pouco, mas como não poderia deixar de ser, outros pareciam enxergar o que o cego enxergava. O povo se dividiu então entre aqueles que viam e aqueles que não viam. Passaram-se anos, o cego, imóvel no alto da torre, mas o reino entrou em conflito. Os que viam não aceitavam aqueles que não viam, e os que não viam, amargurados por não ver, desprezavam os que viam. Foi então que em um dia qualquer o idiota do reino gritou: eu não entendo porque tanta briga, afinal ele é cego! O cego então desceu da torre e cumprimentou o cidadão. No início, eu andava de um lado para o outro procurando o alçapão que me levaria de volta a escadaria, quando percebi que minha vontade de descer tinha se tornado importante para todos continuei, depois de alguns anos, cansado de toda a atenção, resolvi parar e ficar quietinho para ver se perdiam o interesse, mas isso causou mais espanto. Com medo de dizer que meu objetivo era simples, aqui fiquei. Mas finalmente alguem entendeu. Feliz são os idiotas que conseguem compreender o mundo tal como ele é. Sem finais fantásticos, sem lições a serem aprendidas, apenas o óbvio claro e cruel.

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